Eleições
O meu post anterior não gerou discussão quase nenhuma... agradeço ao Crispim, com quem travei uma ”batalha” blogó-radiofónica algures no Verão enquanto andava à procura de empresas para comprar. Meus leitores adormecidos, larguem a letargia do consumismo e comecem a pensar! (Ena, estou feito um verdadeiro agitador de massas, mais um bocadinho e candidato-me ao lugar do Carvalho da Silva quando voltar!)
Entretanto, aqui nos Estados Unidos, a próxima terça-feira vai ser palco de umas eleições importantes. Os EUA têm um sistema muito peculiar... Todos os anos, a primeira terça-feira de Novembro é palco de eleições. Todos os orgãos de poder são eleitos (em anos diferentes) nesta data. Seja o Senado, o Presidente, o Congresso, o Mayor, o Governador ou outra coisa qualquer (ainda há mais uns cargos, mas isso já me ultrapassa... além de que varia de estado para estado, de “county” para “county”). Este ano, temos 33 dos 100 lugares do Senado em cima da mesa, além da “House of Representatives”. Mas as eleições mais vísiveis para este vosso expatriado são as eleições para Governador do Illinois. A televisão inunda-me a casa de pérolas como esta ou esta. Os nomes Topinka e Blagojevich já me entraram na rotina, e agora estou curioso com o que vai acontecer na próxima terça-feira. A corrida ao congresso do “District” em que vivo também tem algum interesse, com esta senhora a merecer o meu respeito (independentemente de concordar ou não com as ideias dela). Refazer a vida depois de perder as duas pernas no exército não é tarefa fácil para ninguém...
Para a próxima Terça, estou a contar com mais um serão parecido com tantos Domingos de eleições em Portugal, em que, confesso, passava umas boas 5-6 horas a ver resultados. Depois aparecia o CDS a dizer que aumentou de 5.61% para 5.63%, o PC a dizer que, apesar de descer de 8.3% para 7.5%, a vitória dos trabalhadores está mais próxima, e que os 7 deputados de Beja, Setúbal e Évora vão mudar este mundo e o outro. Quanto as trocas e baldrocas do PSD e do PS, nem vale a pena falar muito, são o que são. Mas a conferência de imprensa do Guterres em Dezembro de 2001 faz parte dos momentos altos televisivos a que assisti na minha vida...
Mas, voltando aqui aos EUA, este sistema tem a originalidade de forçar a existência de vencedores e vencidos. O sistema ou a maioria ou nada tem muitos defeitos, mas também tem muitas qualidades... Não há ninguém a cantar vitória a não ser o vencedor. Isso atinge a sua expressão máxima num evento em desenvolvimento por aqui: a corrida presidencial. Em 2008 há eleições presidenciais. E estas eleições serão quase certamente históricas por uma ou mais razões. Do lado republicano, poderão vir Rudy Giulianni ou John McCain. Até aqui, nada de particularmente importante, 2 homens brancos e pronto. Do lado Democrata, Al Gore ou Evan Bayh também não seriam notícia. Mas, tanto do lado republicano como do lado democrata, poderão surgir candidatos históricos. Condoleeza Rice seria a primeira em duas coisas: a primeira mulher e o primeiro negro. E poderá enfrentar a Hillary Clinton, também mulher, ou Barack Obama, o jovem senador negro do Illinois, apoiado pela Oprah Winfrey. Se um destes candidatos chegar às eleições, será certamente um momento histórico e terá um enorme interesse observar a dinâmica de um país marcado por fracturas em vários aspectos da sociedade.
Ah, a título de curiosidade, a palavra negro nos EUA tem uma conotação terrível. Apesar de, em Português, ser a forma mais formal de referir a cor de pele de alguém, nos EUA tem um peso terrível ligado ao esclavagismo (era a palavra usada no comércio de escravos). Como tal, caso visitem os EUA, ou tenham contacto com algum americano, usem alguma precaução na utilização desta palavra. Uma derivação desta palavra constitui a maior “asneira” no calão americano, uma palavra que pode causar problemas sérios...